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A   QUESTÃO   DE(O)   FUNDO 

A opinião pública tem assistido a uma crescente produção de informação sobre o pedido de ajuda de Portugal a instituições financeiras mundiais.

Os jornalistas, ávidos de uma palavrinha de um qualquer funcionário da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional, não descolam dos seus percursos até às arcadas do Terreiro do Paço, junto ao Ministério das Finanças, para obter declaração de circunstância e sem interesse para o cidadão.

Há um massacre constante de notícias e pronunciamentos políticos sobre a situação portuguesa que não proporciona a tranquilidade necessária aos sacrifícios que aí vêm.

Por outro lado, dá a impressão que são esses funcionários da UE e do FMI que nos vêm trazer a solução para um pequeno país que ao longo de oitocentos anos fez história pelos melhores motivos e ajudou outros povos a se desenvolverem económica e socialmente.

A velha aliança inglesa, tão contestada pela burguesia do sec.18, trouxe benefícios ao Reino Unido, mas o encerramento das nossas indústrias artesanais. Mais tarde, quando D.João VI se afastou para o Brasil para fugir às invasões napoleónicas, os ingleses, a troco do apoio militar, tomaram conta do governo da nação, através do General Beresford, que exauriu as finanças públicas e preteriu os militares portugueses em favor da tropa britânica.

Já no século 20, nos grandes conflitos mundiais, Portugal cedeu o território açoriano ao domínio britânico e norte-americano, para bases militares que ainda hoje mantêm.

Que beneficiámos com essas alianças? Subalternizaram-nos esses povos ditos amigos e, agora, fazem de nós pedintes.

Nas últimas décadas, integrados no espaço comunitário que seguia a economia neo-liberal como base do crescimento económico, embarcámos no consumismo despesista, cujos lucros tremendos aumentaram, substancialmente, os cofres de banqueiros sem escrúpulos, e contribuiram para a formação de milhares de fortunas.

No entanto, quantos economistas acusam o cidadão comum de ter gasto mais que o possível, quando eram os próprios bancos, na sua ânsia de aumentar os lucros, que nos ofereciam, com facilidade, rapidez e sem critério, financiamentos para o que podíamos e não podíamos pagar?!...

Que estado poderia sobreviver a essas incursões capitalistas e consumistas, se tivesse impedido a construção de milhares e milhares de novas habitações, a compra de novos veículos e outros bens de consumo, a abertura de centros comerciais e de grandes superfícies que geravam empregos, aumentavam as receitas públicas e se enquadravam no sistema económico vigente?

Quem assim não procedesse seria acusado de contrário à livre iniciativa, de combater as leis da concorrência e de impedir o progresso – princípios do neo-liberalismo que acabaram por cilindrar os países e cidadãos mais débeis.

Nesta fase da história da humanidade, são evidentes as interrogações sobre qual o modelo económico seguinte.

Há quem defenda, há muito, um novo paradigma. O certo, porém, é que as soluções para o colapso financeiro dos estados estão nos organismos da União Europeia e no FMI que se regem por critérios neo-liberais e pelas distorções das agências de rating ao serviço dos senhores do dinheiro. Não há espaço nas contrapartidas aos empréstimos, para a solidariedade, para a preocupação com os mais fracos e para a recuperação da economia. Apenas a exigência do pagamento atempado e total das dívidas, acrescidas de juros e lucros exorbitantes.

Esta é a verdade que o povo simples, com a sua dura experiência de vida, percebe e contesta.

Impõe-se, pois, uma atitude séria e responsável dos agentes políticos e da comunicação social. Não embarquem nem na consagração, nem no apoio aos « salvadores » dos depauperados cofres públicos e privados. Procedendo assim, estarão a consagrar um sistema injusto e desumano.

Informem, com verdade, mas não dêem guarida ao estafado e inconsequente discurso da maledicência que alimenta o sindrome coletivo da incapacidade para ultrapassar a crise!

Promovam a expressão de novas ideias económicas e sociais, de novos projectos, de novos valores. Neles assentará a sociedade vindoura que todos aspiramos e pretendemos seja mais igual.

E se, neste entretanto, alguns tiverem de partir para outras paragens, em busca de melhores condições de vida, não se lhes fechem as portas.

Quando em Março de 1677, em tempos também difíceis, 50 famílias açorianas partiram para o sul do Brasil, levando a ilha no coração, iniciou-se, então, a história da nossa diáspora. Mais tarde, foram os Estados Unidos e o Canadá que nos acolheram.

Sempre demos o nosso melhor para que a humanidade fosse mais solidária, e soubemos afirmar valores humanos, que não se conformam com os ditames que os homens do dinheiro nos querem impôr (pobres mas honrados!).

Contra eles dizemos, como Ciprião de Figueiredo: Antes morrer livres, que em paz sujeitos! 

       

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